🇫🇷🇧🇷 O Ano França–Brasil 2025: Cultura, Poder e Diplomacia em Tempos de Desordem Mundial
  Um reencontro cultural com fortes implicações políticas
Em 2025, Brasil e França voltam a se encontrar em uma das maiores iniciativas culturais do século XXI: o Ano França–Brasil 2025. Mas, por trás das exposições, shows e eventos artísticos, há um projeto com ambições muito maiores. Essa nova temporada cultural é, ao mesmo tempo, uma celebração simbólica e uma jogada estratégica — um movimento em que Paris e Brasília usam a cultura como instrumento de influência e reposicionamento internacional, em um mundo cada vez mais instável e polarizado.
A cultura como poder: as raízes da diplomacia francesa
A cultura sempre foi uma ferramenta de poder. Desde os tempos do Rei Luís XIV, a França construiu sua imagem de “potência civilizacional” exportando língua, arte e estilo de vida. Mesmo após guerras e crises, manteve sua influência por meio de uma política sistemática de diplomacia cultural, com instituições como a Alliance Française e o Institut Français.
Nos anos 1970, o Relatório Jacques Rigaud (1979) redefiniu o papel da cultura na política externa francesa, propondo uma diplomacia de influência adaptada à globalização e à hegemonia cultural dos Estados Unidos. Foi nesse contexto que nasceu o conceito de “exceção cultural”, defendendo que filmes, livros e músicas são bens simbólicos e não simples mercadorias.
Essa visão deu origem às temporadas culturais cruzadas (saisons croisées): programas bilaterais baseados em reciprocidade e diálogo intercultural. Essas temporadas funcionam como instrumentos de soft power — formas sofisticadas de influência política e simbólica.
O Brasil entra em cena: 2005 e 2009
  Em 2005, o Ano do Brasil na França apresentou um Brasil moderno, plural e vibrante com mais de 300 eventos em 80 cidades. Quatro anos depois, em 2009, o Ano da França no Brasil ampliou ainda mais a cooperação — com 560 iniciativas em 120 cidades e grande impacto político.
Essas temporadas consolidaram a parceria estratégica Brasil–França (formalizada em 2006) e serviram como base para projetos conjuntos, como o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (ProSub) e o apoio francês ao assento brasileiro no Conselho de Segurança da ONU. Mostraram que a diplomacia cultural é mais do que arte: é política externa na prática.
Diplomacia presidencial: Lula, Macron e a nova fase da parceria
  A nova temporada Brasil–França reflete a diplomacia pessoal entre Lula e Macron. Durante a visita de Estado de junho de 2025, a Torre Eiffel iluminada em verde-amarelo simbolizou essa reaproximação. Foram anunciados cerca de 20 novos acordos em áreas como clima, defesa, educação e ciência, além da continuidade do ProSub e novas iniciativas em transição ecológica e bioeconomia.
Apesar da afinidade entre os dois líderes, há tensões sobre o acordo Mercosul–União Europeia. Lula busca uma assinatura ainda sob a presidência brasileira do Mercosul, enquanto Macron mantém reservas por razões ambientais e agrícolas. Mesmo assim, o Ano França–Brasil 2025 funciona como zona de convergência simbólica: fortalece laços políticos, culturais e econômicos e reforça a imagem de ambos como defensores de um mundo multipolar e cooperativo.
2025: uma nova temporada em meio à desordem mundial
O evento ocorre em um contexto global de grande instabilidade — guerras na Ucrânia e na Palestina, tensões entre EUA e China, a expansão dos BRICS e o declínio relativo da União Europeia. Nesse cenário, a França busca reafirmar sua influência no Sul Global, enquanto o Brasil tenta reconstruir sua imagem internacional após anos de retração diplomática. Ambos veem na cultura uma via de soft power para legitimar sua presença no sistema internacional.
O que está em jogo
Mais do que uma série de eventos culturais, o Ano França–Brasil 2025 representa uma operação simbólica de legitimidade recíproca. Para a França, é uma oportunidade de renovar sua imagem global e ampliar sua presença na América do Sul. Para o Brasil, é uma chance de reafirmar seu protagonismo internacional e fortalecer a parceria estratégica com um dos principais membros da União Europeia.
Como lembra o diplomata Edgar Telles Ribeiro, a diplomacia cultural é uma “arma invisível” — silenciosa, mas duradoura. E talvez, diante da atual desordem mundial, ela seja uma das poucas pontes ainda capazes de conectar povos e reconstruir a esperança.
Autor: Marcello de Souza Freitas
Publicado em: Novembro de 2025
Canal: Fator Cultural / Blog Fluxo Dialógico
Hashtags: #AnoFrançaBrasil2025 #DiplomaciaCultural #SoftPower #França #Brasil #CulturaePoder #GeopolíticaCultural #Lula #Macron #SulGlobal #BRICS