segunda-feira, 3 de novembro de 2025

O Ano França–Brasil 2025: Cultura, Poder e Diplomacia em Tempos de Desordem Mundial

 

O Ano França–Brasil 2025: Cultura, Poder e Diplomacia em Tempos de Desordem Mundial

🇫🇷🇧🇷 O Ano França–Brasil 2025: Cultura, Poder e Diplomacia em Tempos de Desordem Mundial

Lula e Macron em Paris, 2025 - Torre Eiffel verde e amarela
A Torre Eiffel iluminada em verde e amarelo marcou o reencontro entre Brasil e França e o relançamento simbólico de uma parceria estratégica com profundos significados culturais e políticos.

Um reencontro cultural com fortes implicações políticas

Em 2025, Brasil e França voltam a se encontrar em uma das maiores iniciativas culturais do século XXI: o Ano França–Brasil 2025. Mas, por trás das exposições, shows e eventos artísticos, há um projeto com ambições muito maiores. Essa nova temporada cultural é, ao mesmo tempo, uma celebração simbólica e uma jogada estratégica — um movimento em que Paris e Brasília usam a cultura como instrumento de influência e reposicionamento internacional, em um mundo cada vez mais instável e polarizado.

A cultura como poder: as raízes da diplomacia francesa

A cultura sempre foi uma ferramenta de poder. Desde os tempos do Rei Luís XIV, a França construiu sua imagem de “potência civilizacional” exportando língua, arte e estilo de vida. Mesmo após guerras e crises, manteve sua influência por meio de uma política sistemática de diplomacia cultural, com instituições como a Alliance Française e o Institut Français.

Nos anos 1970, o Relatório Jacques Rigaud (1979) redefiniu o papel da cultura na política externa francesa, propondo uma diplomacia de influência adaptada à globalização e à hegemonia cultural dos Estados Unidos. Foi nesse contexto que nasceu o conceito de “exceção cultural”, defendendo que filmes, livros e músicas são bens simbólicos e não simples mercadorias.

Essa visão deu origem às temporadas culturais cruzadas (saisons croisées): programas bilaterais baseados em reciprocidade e diálogo intercultural. Essas temporadas funcionam como instrumentos de soft power — formas sofisticadas de influência política e simbólica.

O Brasil entra em cena: 2005 e 2009

Em 2005, o Ano do Brasil na França apresentou um Brasil moderno, plural e vibrante com mais de 300 eventos em 80 cidades. Quatro anos depois, em 2009, o Ano da França no Brasil ampliou ainda mais a cooperação — com 560 iniciativas em 120 cidades e grande impacto político.


Essas temporadas consolidaram a parceria estratégica Brasil–França (formalizada em 2006) e serviram como base para projetos conjuntos, como o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (ProSub) e o apoio francês ao assento brasileiro no Conselho de Segurança da ONU. Mostraram que a diplomacia cultural é mais do que arte: é política externa na prática.

Diplomacia presidencial: Lula, Macron e a nova fase da parceria

Lula e Macron em Paris, 2025 - encontro diplomático
Lula e Macron em Paris (junho de 2025): diplomacia pessoal e reaproximação política.

A nova temporada Brasil–França reflete a diplomacia pessoal entre Lula e Macron. Durante a visita de Estado de junho de 2025, a Torre Eiffel iluminada em verde-amarelo simbolizou essa reaproximação. Foram anunciados cerca de 20 novos acordos em áreas como clima, defesa, educação e ciência, além da continuidade do ProSub e novas iniciativas em transição ecológica e bioeconomia.

Apesar da afinidade entre os dois líderes, há tensões sobre o acordo Mercosul–União Europeia. Lula busca uma assinatura ainda sob a presidência brasileira do Mercosul, enquanto Macron mantém reservas por razões ambientais e agrícolas. Mesmo assim, o Ano França–Brasil 2025 funciona como zona de convergência simbólica: fortalece laços políticos, culturais e econômicos e reforça a imagem de ambos como defensores de um mundo multipolar e cooperativo.

2025: uma nova temporada em meio à desordem mundial

O evento ocorre em um contexto global de grande instabilidade — guerras na Ucrânia e na Palestina, tensões entre EUA e China, a expansão dos BRICS e o declínio relativo da União Europeia. Nesse cenário, a França busca reafirmar sua influência no Sul Global, enquanto o Brasil tenta reconstruir sua imagem internacional após anos de retração diplomática. Ambos veem na cultura uma via de soft power para legitimar sua presença no sistema internacional.

O que está em jogo

Mais do que uma série de eventos culturais, o Ano França–Brasil 2025 representa uma operação simbólica de legitimidade recíproca. Para a França, é uma oportunidade de renovar sua imagem global e ampliar sua presença na América do Sul. Para o Brasil, é uma chance de reafirmar seu protagonismo internacional e fortalecer a parceria estratégica com um dos principais membros da União Europeia.

Como lembra o diplomata Edgar Telles Ribeiro, a diplomacia cultural é uma “arma invisível” — silenciosa, mas duradoura. E talvez, diante da atual desordem mundial, ela seja uma das poucas pontes ainda capazes de conectar povos e reconstruir a esperança.


Autor: Marcello de Souza Freitas
Publicado em: Novembro de 2025
Canal: Fator Cultural / Blog Fluxo Dialógico


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segunda-feira, 23 de junho de 2025

Entendendo o Xadrex da Guerra entre Irã, Israel e Estados Unidos

O mundo prende a respiração: Irã e Israel estão em guerra aberta, com drones e mísseis cruzando o céu do Oriente Médio, causando destruição e medo. E, para complicar, os Estados Unidos entraram diretamente no conflito, atacando instalações nucleares iranianas. O que significa tudo isso? E estamos, de fato, caminhando para uma Terceira Guerra Mundial?

                      


Das Raízes Nucleares à Explosão Atual

A história dessa tensão é longa. Começou lá nos anos 50, quando os próprios EUA ajudaram o Irã a iniciar seu programa nuclear "pacífico". Mas a Revolução Iraniana de 1979 mudou tudo, transformando aliados em inimigos. A desconfiança ocidental sobre o programa nuclear iraniano cresceu, apesar do Irã alegar fins pacíficos e seu líder supremo ter emitido uma fatwa (decreto religioso) proibindo armas nucleares.

Um ponto chave foi o acordo nuclear de 2015, o JCPOA, assinado entre o Irã e as maiores potências mundiais (o P5+1). Ele limitava o programa nuclear iraniano em troca do fim das sanções, sob uma rigorosa vigilância da AIEA. Mas, em maio de 2018, Donald Trump retirou unilateralmente os EUA do acordo, alegando que ele era "horrível" e não abordava outras questões iranianas. Essa quebra de confiança desestabilizou tudo e, com o retorno de Trump à presidência em 2025, a pressão por um "acordo pior" para o Irã se intensificou, alimentando a atual crise.


A Espiral de Escalada: Eventos Recentes e a Entrada dos EUA

A série de ataques diretos não surgiu do nada. Tudo escalou após o ataque à embaixada iraniana em Damasco em 1º de abril de 2024, atribuído a Israel. O Irã retaliou com um ataque maciço em abril de 2024, e Israel respondeu dias depois. As tensões aumentaram ao longo do ano com mais assassinatos de líderes e novos ataques mútuos.

Chegamos a junho de 2025, com Israel atacando instalações nucleares iranianas em 12 de junho, seguido por ondas de retaliação do Irã. Mas o grande divisor de águas foi em 21 de junho de 2025, quando os EUA atacaram diretamente o Irã, usando poderosas bombas "destruidoras de bunkers" contra instalações nucleares como Fordow e Natanz.

A reação iraniana foi imediata: condenação veemente, ameaças de retaliação aos EUA e a possível tentativa de fechar o vital Estreito de Ormuz, disparando os preços do petróleo.




Fatores Além do Nuclear e o Risco de Guerra Global

Essa guerra vai muito além do nuclear. A crise na Palestina, com a guerra em Gaza, e a fragilidade política do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu (que enfrentava uma votação crucial no parlamento um dia antes do ataque de Israel ao Irã) são fatores cruciais. Ataques externos podem desviar a atenção e unir o país em momentos de fragilidade interna.

A geopolítica global também pesa. A inclusão do Irã no BRICS e sua aliança com a Rússia são vistas pelos EUA como desafios à sua influência. Enfraquecer o Irã pode ser uma forma de conter a ascensão desses blocos.

Com a entrada direta dos EUA, o risco de uma guerra mundial se torna real. Rússia e China já condenaram os ataques americanos, aumentando a tensão. Embora uma guerra global não interesse a nenhuma grande potência, o perigo de uma escalada acidental ou descontrole é imenso.

O futuro é incerto. A diplomacia, já fragilizada, enfrenta seu maior teste. O mundo assiste apreensivo a cada movimento nesse tabuleiro explosivo.


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